sexta-feira, 1 de junho de 2012

A Mulher na Canção de Chico Buarque


Terezinha

O primeiro me chegou
Como quem vem do florista:
Trouxe um bicho de pelúcia,
Trouxe um broche de ametista.
Me contou suas viagens
E as vantagens que ele tinha.
Me mostrou o seu relógio;
Me chamava de rainha.
Me encontrou tão desarmada,
Que tocou meu coração,
Mas não me negava nada
E, assustada, eu disse "não".

O segundo me chegou
Como quem chega do bar:
Trouxe um litro de aguardente
Tão amarga de tragar.
Indagou o meu passado
E cheirou minha comida.
Vasculhou minha gaveta;
Me chamava de perdida.
Me encontrou tão desarmada,
Que arranhou meu coração,
Mas não me entregava nada
E, assustada, eu disse "não".

O terceiro me chegou
Como quem chega do nada:
Ele não me trouxe nada,
Também nada perguntou.
Mal sei como ele se chama,
Mas entendo o que ele quer!
Se deitou na minha cama
E me chama de mulher.
Foi chegando sorrateiro
E antes que eu dissesse não,
Se instalou feito posseiro
Dentro do meu coração.

Chico Buarque


Terezinha

O desabrochar da sensualidade

A letra da canção "Terezinha" é inspirada na canção folclórica "Terezinha de Jesus", numa versão mais adulta, mais madura, que analisa não só o comportamento afetivo-sexual da mulher, como também o desenvolvimento da maturidade afetiva masculina.

Nesta canção, há três homens que chegam em diferentes momentos, em diferentes fases da vida do eu-lírico, que é feminino.

O primeiro chega com um bicho de pelúcia e um broche de ametista. Representa um amor de doação, já que não lhe negava nada, procurava agradá-la, a chamava de rainha, numa alusão a um amor inacessível, tal como ocorre nas cantigas de amor medievais. Há, neste caso, uma nítida relação edipiana, revelada pelo bicho de pelúcia, que remete à infância e à forma como o eu-lírico é amada. Note-se que o verbo chamar está no pretérito imperfeito, que revela uma ação passada, mas não acabada, o que sugere a continuidade da relação, porém não no mesmo nível, pois o eu-lírico se assusta com o sentimento, carregado de culpa pela ilicitude, e diz não.

O segundo representa uma atração e sentimento proibido, ilícito, incestuoso (irmão?). É o amor tirânico, controlador, que nada traz, a não ser uma garrafa de aguardente para o seu próprio consumo. Existe um sentido implícito que remete à sexualidade, tanto na garrafa como no conteúdo, mas prefiro analisar outros aspectos desta relação. Ele a encontra desa(r)mada, a chama de perdida (prostituta) e nada lhe entrega. Novamente o verbo chamar está no pretérito imperfeito, como no primeiro caso. E novamente ela diz não ao sentimento que a atrai mas, ao mesmo tempo, causa aversão, medo, sentimento de culpa...

O terceiro é alguém que ela não conhece (ainda) e que sequer sabe como se chama. Ele nada traz, nada pergunta, nada oferece, nada pede. Simplesmente a chama de mulher, agora no presente e com uma relação intrínseca com o substantivo chama, que remete à paixão, desejo, sensualidade. Ele foge do círculo edipiano e torna-se um amor permitido, que a realiza, que toma posse do seu coração.

Abraços, fiquem com Deus!

com carinho

Isabel

2 comentários:

  1. CONSEGUI COMENTAR,ISABEL!

    ENTREI PELO LINK Q VC MANDOU E NÃO PELO COMENTÁRIO NO BLOGSPOT. PQ ESSA DIFERENÇA?

    ADOREI SEU BLOG!

    VISITE O MEU TB!

    BEIJOS

    DONETZKA

    ResponderExcluir
  2. Consegui ser sua seguidora tb,Isabel!

    Só falta eu colocar minha foto.

    Bjs

    Donetzka

    ResponderExcluir

Comentários